sábado, 7 de outubro de 2017

Paradoxo da liberdade

Felicidade pressupõe liberdade. Em geral, quem é mais livre é mais feliz. No entanto, a angústia nasce justamente dessa mesma liberdade de escolha.

Barry Schwartz é um psicólogo que escreveu um livro chamado "O Paradoxo da Escolha". Nele, ele fala como, na sociedade atual, com toda nossa liberdade de escolhas e de deliberação, muitas vezes as pessoas acabam mais tristes, infelizes ou oprimidas.

Oprimidas pela escolha, pois quando você é obrigado a escolher, escolhas insignificantes acabam se tornando trabalhosas, tomando tempo desnecessário, e escolhas importantes acabam se tornando "impossíveis" de se fazer, por medo de escolher a opção errada e ter que colher as consequências disso. Ademais, a infinidade de coisas e de opções para que possamos escolher às vezes nos paralisa, causando inação. Nos sentimos perdidos, desamparados. Vemos despropósito na existência de algumas escolhas. Por que temos que escolher o que escolhemos?

O historiador Leandro Karnal faz uma reflexão sobre o trabalho de Étienne de la Boétie, o “discurso da servidão voluntária”. Ele diz que muitas vezes, abrimos mãos da nossa liberdade de escolha e entregamos a outrem por ser mais confortável ou por não nos sentirmos capazes de deliberar. Abrir mão da liberdade de escolha às vezes é libertador, principalmente na sociedade de hoje, em que há tanta coisa a escolher. Existencialistas talvez condenariam isso. Diriam que é má fé abrir mão da nossa agência sobre o mundo. Mas eu acho que abrir mão de escolher também pode ser uma escolha e não é uma escolha imoral.

Queria também falar sobre o exemplo que o Barry dá sobre as calças jeans. Na palestra ele diz que antigamente só havia um tipo de calças jeans para comprar nas lojas. Era uma calça horrorosa, não vestia bem, não era confortável, mas, com o tempo, ela ía se adaptando ao corpo. Você só comprava outra quando elas ficavam velhas mesmo. Outro dia ele foi comprar calças jeans novas para ele. Chegou na loja e viu que, atualmente, há um infinidade de tipos de calças. Apesar de ter comprado uma calça muito melhor do que ele jamais teve na vida, ele saiu da loja se sentindo infeliz, miserável. Simplesmente porque achou que, dada a quantidade de opções, poderia ter escolhido melhor. A multitude de opções faz com que elevemos nossas expectativas em relação ao resultado das nossas escolhas. E quando a expectativa é muito alta, mesmo que o resultado seja bom, ainda assim nos sentimos insatisfeitos.

Podemos aplicar isso às relações amorosas que temos hoje em dia. Se tornaram descartáveis, pois, pelo nosso leque e liberdade de escolhas, acabamos achando que não estamos com o par ideal. Sempre achamos que podemos escolher melhor e acabamos sozinhos e infelizes. Infelizmente, o amor virou "produto" de nossas escolhas em um sentido mais literal.

A solução? Talvez recorrer mais ao epicurismo. Viver uma vida buscando as coisas e prazeres mais simples, diminuindo nossas expectativas sobre a forma que o mundo deve ser e sobre o que o mundo nos deve. Talvez também devemos ser mais resignados e nos contentar com soluções que nem sempre vão ser as melhores em todas as situações, tentando, por outro lado, não cair na mediocridade. Equilíbrio é a chave.


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