sábado, 21 de outubro de 2017

Nietzsche, fuga da realidade e a modernidade

"Se não existe nada além desta existência, há de se concluir que apenas ela merece nosso amor. Aprender a amar nosso destino, encontrar beleza no necessário, esta é a grande lição de Nietzsche já no fim de sua produção intelectual. Este talvez este seja seu último grande ensinamento, aquele que o filósofo levou mais anos para interiorizar: dizer sim à vida, porque só ela existe e somente ela carrega valor em si mesma. Afirmar a realidade e viver em sintonia consigo mesmo. Contribuir assim para que tudo se torne mais belo, mais forte, mais potente." (https://razaoinadequada.com/2013/04/03/nietzsche-amor-fati/)
Nietzsche é um filósofo contra qualquer tipo de idealismo, como religiões, comunismo, utopias ou qualquer coisa que te tire da realidade, da vida e do mundo como ele é. É um filósofo com o qual me identifico bastante e de cujas ideias eu gosto. Posteriormente a seu trabalho, outros categorizaram o niilismo em sua obra e cunharam o termo niilismo negativo:
"Aqui, nega-se o mundo em nome de outros valores. Mas o niilista engana a si próprio, ele nunca diz negar o mundo, pelo contrário, ele se diz afirmando Deus, uma utopia, o que quer que seja. Divisão de dois mundos, um debaixo: sensível, mutável, corporal, imperfeito, temporal; outro supra-sensível: imutável, ordenado, perfeito, atemporal. O niilista negativo cria outros mundos para poder suportar este. Se esta ordem terrena o faz sofrer, ele diz: “Deus é misterioso, escreve por linhas tortas“. Se o homem sofre aqui na terra ele diz: “Deus, tenha piedade de nós“. A vontade se torna doente, remete a mundos fora deste. “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” [1Jó 2:15]. Este mundo é ruim, portanto, o niilista deve provavelmente ser o escolhido de Deus (um deus dos fracos, oprimidos, que sofrem), esta é a figura do ressentimento" (https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/nietzsche/4-formas-de-niilismo/)
Segundo Nietzsche, os homens inventaram o ideal para negar o real. Logo, devemos viver uma vida sem ilusões, sem nada que possa ser usado para justificar nossas fraquezas e misérias, ou que nos façam fugir da realidade. Isso não é tão simples quanto parece, principalmente nos dias atuais. Além dos grandes idealismos e idealidades denunciados por Nietzsche, há ilusões menores e cotidianas que sempre nos cercam e, inconscientemente, estamos sempre tentando fugir do mundo à nossa frente.

Desde pequenos, somos bombardeados com informações e modelos de como a vida deve ser. Romantizamos relacionamentos, trabalho, carreira, filhos. Criamos expectativas sobre como devemos ser tratados e sobre o que merecemos por agir de maneira correta e justa (de acordo com nossa própria visão do que esses conceitos significam).

Hoje em dia, ainda temos celulares, tablets, filmes, séries, jogos, internet. Não conseguimos mais ficar na fila do banco, médico ou dentista sem um celular na mão. Não conseguimos mais viver a vida real. Não conseguimos encarar o vazio existencial, a monotonia e a angústia de viver, sendo estes facetas da vida que a tornam real e, por vezes, bela.

Necessitamos escapar da realidade. Precisamos viajar. Precisamos de algo que ocupe nossas mentes. Precisamos fugir para os mundos da ficção, dos filmes, séries e jogos, onde nossos estereótipos e expectativas são reforçados e projetamos o que esperamos que acontecesse no mundo. E vivemos correndo atrás desses ideais, tentando reproduzi-los em nossas próprias vidas. Sem esquecer de drogas e vícios, que são outro tipo de muleta para a existência, outro tipo de fuga.

Nietzsche fala então de amor fati:
"O bom e o ruim, a dor e o prazer, são inerentes à vida, amar o que nos acontece e nos acontecerá é o primeiro passo para nos tornarmos o que somos. Não precisamos mais esperar um poder exterior para justificar esta realidade, não há uma moral superior, não há um destino que justifique o mundo. O homem precisa dar conta de si, ele mesmo precisa criar sentido e justificar a realidade, transvalorando valores. Dar sentido, dar valor, é amar." (https://razaoinadequada.com/2013/04/03/nietzsche-amor-fati/)
Encerro este texto com uma frase comumente atribuída à Buda (cuja verdeira fonte não consegui confirmar):
 "Não se esqueça que os instantes que você vive aqui e agora e as pessoas com quem você convive aqui e agora são as mais importantes da tua vida por serem as únicas reais." - Budismo

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