sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Legos da vida

Quando eu era criança, eu tinha um amigo do qual eu era muito próximo. Passávamos um bom tempo juntos, jogando video-game, brincando com Lego e outras coisas. Um certo dia, tivemos a ideia de juntarmos nossas coleções de Lego para termos mais peças e podermos fazer coisas maiores e mais legais. Fizemos isso sem consultar nossos pais e depois contamos pra eles. Lembro que, à época, minha mãe ficou bem brava e eu não entendia o porquê. Na minha cabeça, seríamos amigos para sempre e poderíamos sempre brincar de Lego juntos. Enfim, eu era apenas uma criança e minha mãe tinha razão no assunto. Meio contrariado, separamos todas as peças. Com certeza fiquei com algumas das peças dele e ele ficou com algumas minhas, nada demais.

Porém, o objetivo deste texto não é a anedota em si. Percebi, depois que comecei a morar com outras pessoas, que a história do Lego é uma paródia para a vida. Atualmente, moro com outras quatro pessoas, cada um com seu jeito, suas ideias e suas coisas. De certa forma, misturamos os Legos das nossas vidas e, agora que estou pensando em sair e voltar a morar sozinho, estou imaginando como vai ser o processo de separação. Porque os Legos não são apenas analogia para coisas materiais, como também para conversas e momentos compartilhados juntos.

Misturamos nossos Legos com de outras pessoas em maior e menor grau durante todas nossas vidas. Acredito que, para um casal que passou anos casado, uma separação, em especial litigiosa, deve ser bastante complicada. Legos que foram misturados, trocados e transformados não voltam mais a ser como antes. Como dizer o que é de quem, sendo que as peças nem são mais as mesmas?

De qualquer forma, o mais importante é tentar sair satisfeito com os Legos que a vida te dá e estar feliz consigo mesmo.

Fuga da realidade

Uma vez meu pai me disse que estamos e estaremos sempre sozinhos nesta vida. Você nunca vai conseguir fazer as pessoas pensarem o que você pensa, sentir o que você sente e agir como você age. Você nasce sozinho e você morre sozinho. Quando duas pessoas fazem sexo, o prazer é de cada uma e o gozo é individual, por mais que as duas estejam ali envolvidas no momento. No seu íntimo, você é uma ilha, estará sempre sozinho.

Em parte, meu pai estava certo. O detalhe é que nossas interações com o mundo físico e social são ininterruptas. Por cima do seu íntimo isolado, você tem todo o resto. E você não consegue tirar o mundo da sua frente, ele está sempre lá. Nessas interações com o mundo, ele te afeta e você também afeta ele.

Há quem pense que o caminho para a felicidade está dentro de si. "Se meu interior está bem, não importa o que aconteça com o resto." Há quem se isole e há quem recorra a drogas, jogos, álcool e outros subterfúgios. Porém, isso não passa de fuga da realidade.

Somos animais sociais e nossos bem estar e saúde íntimos estão atrelados às nossas relações com o mundo. Buscar uma conciliação com o mundo e com a realidade, com todos os problemas, misérias, crueldades e ignorâncias, com nossos próprios defeitos e limitações é o que traz a paz interior e possivelmente a felicidade. É importante viver o mundo no mundo.

Não somos simplesmente uma ilha, o mundo está sempre lá. Você não consegue dissociar você mesmo do resto e, por mais que fujamos, uma hora a realidade bate à nossa porta.