sábado, 25 de abril de 2020

Ressignificando a morte e a vida

A morte de um ente querido faz com que a gente reavalie muita coisa em nossas vidas. Sim, é clichê, mas eu explico.

Minha mãe morreu há dois dias. Antes dela, eu nunca tive que lidar com a morte de ninguém próximo. Depois da morte dela, a impressão que me passou, é que eu estava vivendo uma versão light da realidade. Uma vida de confortos nas quais minhas preocupações eram pequenas. A impressão é de que a vida dos nossos antepassados, que tinham que lidar de maneira mais próxima com doenças e mortes era bem mais "real". Hoje parece que muitos vivemos alienados das dificuldades da vida.

Mas a questão da morte da minha mãe me foi particularmente dolorosa em dois sentidos. Primeiro, por melhor ou pior que tenham sido as coisas, a gente sempre imagina como seriam se a gente tivesse feito as coisas de um jeito diferente. Nos últimos tempos, eu passei bastante tempo com minha mãe e eu tentei dar o máximo de atenção possível pra ela. Isso deixa a minha consciência mais tranquila, mas ainda assim me sinto culpado porque fica a impressão de que eu poderia ter feito mais, de que eu poderia ter feito melhor.

A segunda coisa muito dolorosa é que é muito triste você imaginar que a pessoa não vai mais estar lá. Você queria fazer coisas com ela e você queria que algumas coisas melhorassem, e você não teve oportunidade para isso. Eu queria que minha mãe tivesse melhorado de uma condição médica que ela tinha antes de falecer. Eu queria que minha mãe conhecesse os futuros netos dela. E eu queria que minha mãe me visse sendo bem sucedido. Que ela visse que todo o esforço que ela empenhou para me criar e me educar tinham valido à pena. Isso não vai mais ser possível.

Minha tia me falou ao telefone que a gente sempre quer que a pessoa continue viva, muitas vezes, independente da pessoa estar sofrendo ou não. É verdade. A gente tem um sentimento egoísta. A gente não quer viver sem as pessoas que a gente ama. Eu acredito que minhã mãe ainda queria continuar viva. Acredito que ela ainda queria viver, apesar de haver coisas na vida dela que a causavam sofrimento. E, apesar de eu saber que talvez tenha sido melhor pra ela que não tenha mais que sofrer, nem se preocupar com nada, isso não deixa de ser doloroso. Eu só queria que ela estivesse viva mesmo.

Por fim, na vida, eu já tomei várias decisões que não foram as melhores. Acho que se tivesse tomado algumas dessas decisões "melhores", eu teria mais dinheiro e estaria melhor de vida no momento. Mas várias decisões que tomei na vida e das quais não me arrependo foram passar tempo com as pessoas que eu gosto e me dedicar a elas. Percebo isso muito forte agora, com a morte da minha mãe, que isso foi a única coisa que importou de verdade. A única coisa que continua importando. E reforçou em mim esse sentimento de que estou tomando as decisões corretas na minha vida quando valorizo as pessoas que eu amo e o tempo que passo com elas. Acho que é dessa forma que a morte pode ressignificar a vida, nos mostrando o que realmente importa e aquilo que devemos valorizar de verdade.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Hoje eu descobri que é mais difícil fazer suco de melancia com lágrimas nos olhos

Hoje minha mãe faleceu.