terça-feira, 28 de novembro de 2017

A coisa mais importante do mundo

Confesso que, quando iniciei a escrita deste texto, não sabia muito bem aonde queria chegar. Ainda não sei para falar a verdade.

Felicidade? Amor? Tempo? Família? Amigos? Qual é a coisa mais importante do mundo?

Amor... Amor redime, amor salva, amor cura. Amor dá sentido à vida. Há quem acredite que sem amor a vida não é completa.

Felicidade... Felicidade é um conceito mais vago e subjetivo. Pode incluir a construção de uma família ou alcançar alguma meta profissional. Geralmente é associado ao conjunto da obra de uma vida, de tijolos colocados um a um, que levam a um estado de espírito superior. É o que imaginamos que resta depois que alcançamos um sonho. Muitas vezes é a finalidade de uma vida.

Sonhos... Sonhos são a síntese do que queremos. É o ideal platônico encarnado em nós. Todos desejamos alguma coisa. Todos somos seres desejantes. Quem não tem um sonho, não tem nada.

"Sonhos. Cada homem necessita perseguir seu sonho. Cada homem é torturado por seu sonho, mas é o sonho dá significado à sua vida. Mesmo que o sonho arruíne sua vida, o homem não pode permitir-se a deixá-lo para trás. Neste mundo, seria o homem capaz de possuir algo mais sólido que um sonho?"

Há quem diga que nada disso basta e que nada disso faz sentido se não vivemos uma vida moral. Se mentimos, enganamos ou roubamos para conseguir o amor de uma pessoa, alcançar a felicidade ou um sonho, ainda são válidas as coisas que conquistamos? Faria sentido ter amor e felicidade se somos canalhas, traiçoeiros e ardilosos? Ou valeria mais à pena ser infeliz e sozinho e ser uma pessoa correta? Os fins justificam os meios? A moral e o caráter valem mais que amor, felicidade e sonho?

Queria terminar este texto com um trecho do discurso de formatura de David Foster Wallace no Kenyon College, "Isso é água". Ainda quero retomar uma discussão sobre essa palestra futuramente em outro post, mas, desde já, recomendo.

"Porque existe uma coisa que é estranha, mas é verdade: nas trincheiras do dia-a-dia da vida adulta, não há uma coisa chamada 'ateísmo'. Não existe algo como 'não venerar'. Todo mundo venera. A única escolha que fazemos é o que venerar... Se você venera dinheiro e coisas - se isso é onde você encontra significado na vida - então você nunca terá o bastante. Nunca sentirá que tem o bastante. É a verdade. Venere seu próprio corpo e beleza e atração sexual e você sempre se sentirá feio, e quando o tempo e a idade começarem a aparecer, você morrerá um milhão de mortes antes de finalmente morrer... Venere o poder - você se sentirá fraco e com medo, e você vai precisar de cada vez mais poder sobre os outros para manter o medo controlado. Venere seu intelecto, ser visto como inteligente - você vai acabar se sentindo estúpido, uma fraude, sempre no limite de ser descoberto."
- David Foster Wallace

Qual é a coisa mais importante na sua vida? O que você venera?

Há sempre aquela coisa que é, ao mesmo tempo, causa potencial de nossas alegrias e tristezas. Tudo depende do que você quer e do que você valoriza.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O que buscar em um relacionamento?

Minutos Psíquicos é um canal do YouTube sobre psicologia. Recentemente, eles fizeram uma ótima série de vídeos sobre relacionamentos, incluindo temas como casamento, estar solteiro e a busca pela pessoa certa:



Há vários pontos interessantes nos vídeos. Sintetizo aqui os que mais me chamaram a atenção:
- Casar não te faz necessariamente mais saudável ou mais feliz;
- Casais que dão certo possuem boa comunicação e se focam nos aspectos positivos do parceiro para construir sua visão global do parceiro e do relacionamento ao invés de focarem em aspectos negativos;
- Com o passar do tempo e mudança das pessoas e do relacionamento, os casais que dão certo mudam aquilo que valorizam mais, passando a dar menos importância às coisas que pioraram;
- Casais felizes entendem os comportamentos negativos do parceiro como motivados por fatores externos. São mais benevolentes e tolerantes com erros e defeitos do parceiro;
- Casais infelizes vêem comportamentos negativos do parceiro como características indesejáveis dele, são menos benevolentes e menos tolerantes;
- Casais dispostos a fazer sacrifícios pelo bem do relacionamento conseguem lidar melhor com os problemas, divorciam menos e correm menos risco do relacionamento se deteriorar;
- Solidão crônica faz mal para a saúde, mas apenas àqueles que não escolheram estar sozinhos;
- Pessoas solteiras tendem a se sentir mais conectadas aos outros (família e amigos) do que pessoas casadas, possuem melhor forma e possuem mais autodeterminação e desenvolvimento pessoal;
- A sociedade cobra que as pessoas casem e tenham filhos, mas não há uma fórmula única de viver a vida que fará com que todos sejam felizes;
- Não somos racionais quando escolhemos nossos parceiros. Devemos aprender a julgar a pessoa com que estamos de maneira mais lúcida e racional;
- Atração física é importante no início, mas, a longo prazo, a personalidade e a maneira como a pessoa te trata são mais decisivas;
- Muitas vezes somos vítimas do viés da negatividade. Prestamos mais atenção nos defeitos do que nas qualidades dos outros. Ao invés de procurar pelas qualidades que nos fariam felizes em uma pessoa, acabamos rejeitando-a assim que identificamos algo negativo. Ninguém é perfeito, portanto, rejeitar rapidamente uma pessoa ao identificar um defeito pode levar a rejeitar uma pessoa com várias qualidades positivas que são mais importantes que o defeito em si e, por consequência, rejeitar uma pessoa que talvez te fizesse feliz;
- Há também o fenômeno ou efeito Michelangelo. Por vontade própria ou não e de maneira consciente ou não, acabamos esculpindo o self, as habilidades e personalidade do parceiro. Essa influência pode estimular ou inibir o crescimento e a relização pessoal do parceiro, aproximando-o ou distanciando-o do self ideal. O self ideal é a visão ideal de quem você gostaria de ser e está relacionado a como você se imagina no futuro, quais características e habilidades você idealmente quer ter e em quais metas e objetivos você quer chegar;
- Um parceiro romântico pode te ajudar, ser neutro ou te atrapalhar a tentar alcançar o self ideal, dependendo de como ele te vê e de como ele te trata. Devemos nos relacionar com pessoas que nos estimulem e nos apoiem a ser quem gostaríamos de ser. Pessoas que fiquem felizes quando nos aproximamos do nosso self ideal. Com isso, melhoram o bem-estar, a saúde e a qualidade do relacionamento;
- Devemos nos afastar de parceiros que nos desaprovam e que nos afastam daquilo que valorizamos, dos nossos objetivos e do nosso self ideal. Há pessoas que são muito mais inimigas do que aliadas da nossa felicidade.

Às vezes pode parecer difícil encontrar alguém que nos complete, ainda mais em tempos líquidos como os nossos. Acho que compreender o que acontece com nós mesmos e com os outros é o primeiro passo.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Tristeza e raiva

- O quê...
- Apenas escute. É uma história de um homem velho prestes a morrer. O ódio é o lugar para onde vai um homem que não consegue suportar a tristeza. A vingança é mais escura que mancha de sangue. A tristeza é uma adaga afiada para acertar seu coração. Com o passar dos dias, apenas fica mais afiada. A única coisa que resta é o seu poder.
- Ei, ei... Isso não parece com você. Você vai me dar sermão?
- Sua maneira de viver também não é ruim. Mas eu vejo um corte no seu coração. O medo deixou uma rachadura nele.

Berserk é uma das minhas histórias favoritas. Em geral, acho que a força da narrativa mostra-se mais pelos acontecimentos e atitudes dos personagens do que pelos diálogos em si. No entanto, essa cena em particular, entre Guts e Godot, me chamou a atenção.

"O ódio é o lugar para onde vai um homem que não consegue suportar a tristeza."

Tristeza e raiva são faces da mesma moeda. Em qualquer situação em que você sente raiva, seria possível sentir tristeza no lugar. A raiva surge do inconformismo, surge quando acreditamos que o motivo de nossa tristeza ou frustração poderia não existir. A tristeza é a raiva conformada. E é o que sobra quando deixamos a raiva de lado. E, quando deixamos a tristeza de lado, o que sobra é a resignação.

O homem que não sente raiva não é o homem impassível, sem sentimentos. O homem que não sente raiva é o que sabe lidar bem com as situações de tristeza. É o homem que sabe que não possível mudar o passado. É o homem sábio.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Duke Ellington e Trapaça

Não sou uma pessoa com grandes ilusões na vida, nem grandes ambições e desejos. Acho que a única ilusão que verdadeiramente mexe comigo é a do amor romântico. E é uma coisa que tenho tentado trabalhar mais comigo mesmo, para ser menos iludido. Em particular, existe uma fantasia que povoa meus pensamentos.

Há uma cena no filme Trapaça, acerca de Duke Ellington, um artista de jazz famoso, na qual os protagonistas Irving e Sydney se conhecem.

No meio de uma festa, Irving e Sydney se avistam. Ela estica o braço para alcançar um petisco. Ele segura seu braço e pergunta:
- É o Duke Ellington no seu bracelete?
Sydney:
- De fato, é sim. Ele morreu neste ano, você sabe...
Irving:
- Eu sei, duvido que alguma outra pessoa aqui saiba ou se importe com isso.
Sydney:
- Bem, eu me importo. Ele salvou minha vida muitas vezes.
Irving:
- A minha também. Qual delas?
Sydney:
- Jeep's Blues.
Irving:
- Você quer escutar?
Sydney:
- Agora?
Irving:
- Sim.
Sydney:
- Claro.
Então, eles seguem para uma sala mais reservada para escutar Jeep's Blues.
Irving:
- Quem começa uma música dessa maneira?
Sydney:
- É mágica.
Irving concorda:
- É mágica.
Sydney analisa Irving:
"Ele não estava necessariamente em forma, e ele tinha esse penteado que era todo elaborado. Ele tinha essa aura em torno dele. E ele tinha essa autoconfiança que me atraiu. Ele sabia quem era. Ele não se importava."
Irving:
"Como eu, ela era uma pessoa bastante peculiar. Como eu, ela veio de um lugar em que suas opções eram limitadas."
Sydney:
"Na verdade, pode ser meio sexy algumas vezes. Há uma ousadia nisso tudo. Mas aonde essa ousadia me levaria? Eu não sabia, mas eu iria descobrir."



Na continuação da cena, Irving prossegue:
"Ela era diferente de todo mundo que já conheci. Ela era inteligente. Ela via através das pessoas nas situações. E ela sabia viver com paixão e estilo. Ela entendia Duke Ellington."

De alguma maneira, eu ainda espero encontrar a pessoa que entenda Duke Ellington na minha vida. Acho que entender Duke Ellington é uma metáfora excepcional. Pode ser muito mais amplo do que é descrito no filme, mas, ainda assim, a forma como é feito é de uma sensibilidade gigante. O filme mostra, de maneira poética, que podemos nos apaixonar por pessoas reais. Pessoas com defeitos e imperfeitas. Podemos enxergar a pessoa de quem gostamos sob a lente do romantismo. A cena retrata, de maneira elusiva, o momento em que uma pessoa se apaixona por outra. Tem uma certa mágica, mas nem sempre é tão glamouroso.

Entender Duke Ellington não é só saber viver com paixão e estilo. Entender Duke Ellington trata-se de conectar-se ao outro, entender o parceiro, ter sensibilidade e empatia, da mesma forma que a música do mesmo causa esses efeitos e essas sensações. Entender Duke Ellington pode ser uma coisa universal, mas também pode ser muito particular de cada casal. Cada casal tem seu Duke Ellington. Cada casal tem alguma coisa que o conecta e que o aproxima.

Particularmente, para mim, entender Duke Ellington trata-se de desapego. Trata-se de inteligência, de paciência, de companheirismo, de resiliência, de humildade, de alegria e de conseguir enxergar mais do que apenas o seu próprio ponto de vista. Para mim, entender Duke Ellington também significa gostar de Duke Ellington, de fato, e saber apreciar sua música.

domingo, 5 de novembro de 2017

Pessoas

Somos todos pessoas
Mas entre deuses e homens
Anjos e demônios
Achamos que vivemos

Escolhemos nosso veneno
Ficção ou realidade, não interessa
A dor e o prazer são reais

Abrir os olhos é difícil quando não queremos enxergar
Não tentamos voar se não achamos que temos asas
E às vezes é difícil até se equilibrar sobre as próprias pernas

Quem tem controle tem liberdade, fato
Mas as estações continuam mudando
E Saturno engole a tudo e a todos
O que de pior poderia acontecer?

Continuamos encarando o abismo esperando que ele nos encare de volta
Continuamos vivendo realidades e sonhos caducos e claudicantes
Continuamos sendo quem somos
Continuamos sendo quem podemos ser

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domingo, 29 de outubro de 2017

Mudanças de narrativa, ressignificação e autoimagem

"Nada acontece no tratamento psicanalítico além de um intercâmbio de palavras entre o paciente e o analista. As palavras originalmente eram mágicas e até os dias atuais conservaram muito do seu poder mágico. Por meio de palavras, uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero. Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, um modo de mútua influência entre os homens."

Nossa memória é seletiva. Dependendo de quem você é e das coisas que acontecem, você acaba lembrando muito mais dos aspectos positivos ou negativos. A forma como contamos as histórias para nós mesmos e para os outros muda completamente a maneira como vemos os fatos e como nos sentimos. Toda mudança de sentimento em relação a coisas e pessoas é acompanhada por uma mudança de narrativa.

"Eu gostava de fulano, mas depois descobri uma coisa que me fez mudar de ideia."
"Eu não gostava de ciclano, mas percebi que ele era diferente do que eu pensava."

Além disso, histórias que contamos sobre nós mesmos quase sempre tendem a proteger nossa autoimagem. Quase ninguém fala algo do tipo "fiz merda porque sou uma pessoa de merda" ou "agi de maneira errada porque realmente não valho nada." O indivíduo que fala esse tipo de coisa é avaliado como alguém que possui uma autoestima reduzida ou que possui problemas de caráter moral. Quase sempre colocamos a culpa sobre nossas decisões ou atitudes ruins em fatores e circunstâncias externas ou que não eram possíveis controlar. No existencialismo, isso é chamado de má fé.

"Agi errado porque estava com raiva."
"Fiz errado porque não me ensinaram."
"Agredi porque me provocaram."

Existe pesquisa que diz que a maioria das pessoas, se perguntada "você se considera uma pessoa mais inteligente que a média?", responde que sim (é chamado de efeito Dunning-Kruger e se aplica a outras áreas também). Essa proteção da autoimagem não é algo errado, é questão de saúde mental. Se uma boa parte das pessoas achasse que possui um valor reduzido, seria um grande problema para elas mesmas. Precisamos recontar nossa própria história quando nos sentimos ameaçados, quando isso nos deixa mal ou para manter uma coerência interna. Precisamos proteger nossa identidade.

Nossa identidade, o que somos e o que pensamos são algumas das coisas mais valiosas que temos. Por isso você vê tanta gente capaz de brigar, discutir e até matar por coisas com as quais se identificam ou contra coisas que ferem sua identidade. É o caso de certas manifestações políticas ou do machão que se descobre corno. E, por isso, algumas pessoas consideram ataques às suas ideias como ataques pessoais.

Prosseguindo, acredito que nossa memória emocional geralmente é mais forte do que a memória dos fatos propriamente dita. Em muitas ocasiões, não lembramos exatamente como aconteceram as coisas, mas podemos nos lembrar de como nos sentimos na hora. Por isso mudar nossa narrativa acaba sendo uma tarefa fácil na maioria dos casos. Não precisamos mudar o que aconteceu, apenas como nos sentimos em relação ao que aconteceu. E, para mudar como nos sentimos, acabamos mudando a narrativa. Acabamos mudando a forma como contamos a história.

Por exemplo, o significado de uma pessoa na sua vida começa a mudar no instante em que a mesma decide terminar um relacionamento amoroso com você. Com isso, muda sua visão sobre ela, mudam as histórias que você conta sobre ela e muda o sentimento que você tem por essas histórias e por essa pessoa. A imagem da pessoa é ressignificada. Você deixa de associar a pessoa ao seu conceito do que é amor. Deixa de associar a pessoa ao seu conceito do que é carinho. Acho isso triste, mas é necessário para que a vida possa seguir.

As narrativas possuem um poder muito forte sobre nossas vidas. A maioria das pessoas não percebe isso. A maioria das pessoas muda as narrativas sem ter consciência. Mudar a narrativa é ressignificar. Ganhar poder sobre suas próprias narrativas significa ter controle sobre sua própria vida. Isso levanta uma série de dúvidas e questionamentos sobre o que é a verdade. Mas deixo essa discussão para um outro momento.

"A memória é uma ilha de edição."


Contém spoilers:

sábado, 28 de outubro de 2017

BoJack Horseman, quem somos e o que nos satisfaz

Terminei a 4a temporada de BoJack Horseman.

Depois da 1a temporada, acho que a história começa a seguir uma evolução natural. E a questão principal de BoJack começa a se concentrar em um ponto: da responsabilidade que temos sobre aquilo que somos. BoJack continua decepcionando as pessoas e fazendo merda. Ele usa a história e a criação ruim que teve pra justificar quem ele é. A reflexão que BoJack propõe é: até que ponto somos frutos do meio e até que ponto temos a liberdade de sermos o que queremos? Aos poucos é possível ver que BoJack quer realmente mudar e que ele está mudando. Ele quer quebrar o ciclo ao qual se vê preso. Acho que a lição final do desenho é que, não importa se você teve uma vida de merda, você pode ser uma pessoa melhor.

Fora isso, a série tem muitas outras questões menores e se mantém pela riqueza das interações humanas entre os personagens. Uma das outras questões é sobre encontrar satisfação na vida. Cada personagem procura alguma coisa que lhe traga satisfação, pra preencher o vazio em que se encontra. No caso de BoJack, ele tenta, mas não consegue, porque não vê propósito em nada. E, por mais que os outros personagens pareçam diferentes, eles possuem um ponto em comum. Estão sempre insatisfeitos com alguma coisa e os momentos de felicidade que acontecem em suas vidas acabam sendo efêmeros. Todos estão sempre procurando algo. Ninguém consegue ser feliz com o que tem. Acho que isso, no fundo, é uma verdade da vida....

Também queria fazer um comentário sobre as intrincadas interações humanas. BoJack, apesar de odiar sua mãe, no último instante, apresenta um momento de compaixão. É uma colocação sutil que, para quem não tem sensibilidade, passa despercebida. Mas, por essas e outras situações na série, é possível ver que há beleza naquilo que é simples, como um sentimento. E que a simplicidade e a complexidade muitas vezes flertam e interagem de maneira confusa, resultando em situações que não são muito claras.

Por fim, queria poder falar que o amor sempre vence no final, mas isto seria mentira.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Ausência

Algumas presenças se tornam ausência
Ausência que se faz presente e é sentida no fundo da alma
É como página rasgada de um livro
Buraco no asfalto do coração
Janela que fica aberta na alma
Quebra-cabeça faltando as peças

Mas não é déjà vu
Por mais que seja igual, é diferente
Tão diferente que parece algo novo
Faz-me sentir como criança
Faz-me sentir inseguro
Faz-me desejar que não aconteça de novo

Flagelo-me para ver se ainda consigo respirar depois que meu coração parar de bater
É questão de tempo, mas não de desejo
Só o que posso dizer é que é real
E, com um sorriso triste de outono, lembro que o futuro acontece independentemente


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

BoJack Horseman, aparentes contradições e o desejo de ser amado

Ontem terminei de ver a primeira temporada de BoJack Horseman.

O enredo em si não aparenta ser nada espetacular, pelo contrário, parece até ser meio ridículo. É sobre um cavalo antropomórfico que foi sucesso em uma série de TV dos anos 90, do tipo "Três é demais". Ele fica rico e depois cai no ostracismo, passando a vida bebendo, fazendo coisas de moral duvidosa e jogando dinheiro fora. Porém, muitas vezes, o que importa não é o "quê", e sim o "como".

Para mim, o ponto alto do desenho é a construção dos personagens. Todos eles parecem usar máscaras para disfarçar fraquezas e aquilo que não gostam em si mesmos. Por isso, acabam adotando ou perseguindo posturas que são o contrário do que são. Aparentemente, isso gera uma série de contradições em suas personalidades, contudo, há um sentido na forma em que agem. O fato de alguns serem retratados como animais apenas reforça certas características.

Princess Carolyn aparenta ser uma mulher forte e independente, mas, no fundo, é carente. Diane quer ser bem sucedida para que sua família tenha orgulho dela. Todd quer fazer coisas grandiosas porque não quer ser um idiota inútil. Mr. Peanutbutter está sempre feliz e animado para esconder o vazio que é sua vida. E BoJack.... BoJack é narcisista e egoísta e, por isso, as pessoas não gostam dele. Tudo isso para se reafirmar diante de sua baixa autoestima, medo da solidão e da vontade de ser aceito pelos outros.

Um tema que eu vejo em comum a todos os personagens é o desejo de ser amado, de uma maneira ou de outra. De certa forma, acho que isso é uma reprodução da realidade. Todo mundo quer ser aceito como é, com seus defeitos e tudo mais. No entanto, todo mundo tenta escondê-los e ninguém quer se mostrar vulnerável. No fim, a vida acaba sendo cheia de desencontros. Pessoas magoam umas às outras e se isolam. E, às vezes, aparentamos muito mais estar fugindo de alguma coisa do que perseguindo algo de fato.

"Do que tens medo? Do que foges?"

Somos felizes?

"Esse é o problema com a vida, não é? Ou você sabe o que quer e não consegue o que quer, ou você consegue o que quer e então não sabe o que quer."

Somos felizes e não sabemos? Ou somos infelizes e também não sabemos?

Do ponto de vista filosófico, há uma série de perguntas que podemos nos fazer e que servem de indagações para avaliarmos se estamos vivendo uma vida satisfatória. Listo aqui algumas delas:
  • Sua vida é prazerosa? Ou é sofrida?
  • Você age de maneira moral? Você segue princípios?
  • Você se sente uma pessoa livre? Você acha que tem liberdade para escolher o próprio caminho e as coisas que quer?
  • O que você tem hoje em dia e o que você alcançou até o momento são coisas que você já quis algum dia? Já foram seu sonho ou objeto de seu desejo no passado?
  • Você imagina que as coisas que você deseja no momento tem realmente grande impacto sobre sua felicidade? Ou você as está subestimando ou superestimando? O que você quer está muito longe do que você precisa?
  • O lugar em que você se encontra agora (em termos de moradia/trabalho/estudo etc) te alegra ou te entristece? Você acha que está no lugar certo? Você acha que está fazendo aquilo que deveria? Você está fazendo aquilo que gostaria?
  • As pessoas com quem você convive te alegram ou te entristecem? Existe alguém com quem você quer conviver mais? Existe alguém de quem você sente falta? Você sente necessidade de conhecer pessoas novas?
  • Você se dá bem com sua família (pai, mãe, filhos, irmãos, etc)?
  • Você tem algum relacionamento amoroso? Tem alguém que você ame e cujo amor seja recíproco?
  • Se você fosse morrer amanhã ou na semana que vem, o que você faria? O que teria valor para você? Existiria algo de que se arrependeria? Existiria algo que você acha que deixou de fazer?
  • Se você fosse viver a vida que está vivendo agora por repetidas vezes, por mil, dez mil ou infinitas vezes, você iria querer viver esta vida deste jeito, exatamente da forma como tudo ocorreu?
  • Você teria vontade de fazer o que faz ou o que já fez inúmeras vezes? Se fosse continuar fazendo o que você faz hoje em dia para sempre, todos os dias, você continuaria fazendo e se alegraria com isso?
Claro, felicidade é mais que responder simples perguntas. E, para alguns, felicidade nem é a coisa mais importante da vida. Porém, não custa nada se questionar...

sábado, 21 de outubro de 2017

Nietzsche, fuga da realidade e a modernidade

"Se não existe nada além desta existência, há de se concluir que apenas ela merece nosso amor. Aprender a amar nosso destino, encontrar beleza no necessário, esta é a grande lição de Nietzsche já no fim de sua produção intelectual. Este talvez este seja seu último grande ensinamento, aquele que o filósofo levou mais anos para interiorizar: dizer sim à vida, porque só ela existe e somente ela carrega valor em si mesma. Afirmar a realidade e viver em sintonia consigo mesmo. Contribuir assim para que tudo se torne mais belo, mais forte, mais potente." (https://razaoinadequada.com/2013/04/03/nietzsche-amor-fati/)
Nietzsche é um filósofo contra qualquer tipo de idealismo, como religiões, comunismo, utopias ou qualquer coisa que te tire da realidade, da vida e do mundo como ele é. É um filósofo com o qual me identifico bastante e de cujas ideias eu gosto. Posteriormente a seu trabalho, outros categorizaram o niilismo em sua obra e cunharam o termo niilismo negativo:
"Aqui, nega-se o mundo em nome de outros valores. Mas o niilista engana a si próprio, ele nunca diz negar o mundo, pelo contrário, ele se diz afirmando Deus, uma utopia, o que quer que seja. Divisão de dois mundos, um debaixo: sensível, mutável, corporal, imperfeito, temporal; outro supra-sensível: imutável, ordenado, perfeito, atemporal. O niilista negativo cria outros mundos para poder suportar este. Se esta ordem terrena o faz sofrer, ele diz: “Deus é misterioso, escreve por linhas tortas“. Se o homem sofre aqui na terra ele diz: “Deus, tenha piedade de nós“. A vontade se torna doente, remete a mundos fora deste. “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” [1Jó 2:15]. Este mundo é ruim, portanto, o niilista deve provavelmente ser o escolhido de Deus (um deus dos fracos, oprimidos, que sofrem), esta é a figura do ressentimento" (https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/nietzsche/4-formas-de-niilismo/)
Segundo Nietzsche, os homens inventaram o ideal para negar o real. Logo, devemos viver uma vida sem ilusões, sem nada que possa ser usado para justificar nossas fraquezas e misérias, ou que nos façam fugir da realidade. Isso não é tão simples quanto parece, principalmente nos dias atuais. Além dos grandes idealismos e idealidades denunciados por Nietzsche, há ilusões menores e cotidianas que sempre nos cercam e, inconscientemente, estamos sempre tentando fugir do mundo à nossa frente.

Desde pequenos, somos bombardeados com informações e modelos de como a vida deve ser. Romantizamos relacionamentos, trabalho, carreira, filhos. Criamos expectativas sobre como devemos ser tratados e sobre o que merecemos por agir de maneira correta e justa (de acordo com nossa própria visão do que esses conceitos significam).

Hoje em dia, ainda temos celulares, tablets, filmes, séries, jogos, internet. Não conseguimos mais ficar na fila do banco, médico ou dentista sem um celular na mão. Não conseguimos mais viver a vida real. Não conseguimos encarar o vazio existencial, a monotonia e a angústia de viver, sendo estes facetas da vida que a tornam real e, por vezes, bela.

Necessitamos escapar da realidade. Precisamos viajar. Precisamos de algo que ocupe nossas mentes. Precisamos fugir para os mundos da ficção, dos filmes, séries e jogos, onde nossos estereótipos e expectativas são reforçados e projetamos o que esperamos que acontecesse no mundo. E vivemos correndo atrás desses ideais, tentando reproduzi-los em nossas próprias vidas. Sem esquecer de drogas e vícios, que são outro tipo de muleta para a existência, outro tipo de fuga.

Nietzsche fala então de amor fati:
"O bom e o ruim, a dor e o prazer, são inerentes à vida, amar o que nos acontece e nos acontecerá é o primeiro passo para nos tornarmos o que somos. Não precisamos mais esperar um poder exterior para justificar esta realidade, não há uma moral superior, não há um destino que justifique o mundo. O homem precisa dar conta de si, ele mesmo precisa criar sentido e justificar a realidade, transvalorando valores. Dar sentido, dar valor, é amar." (https://razaoinadequada.com/2013/04/03/nietzsche-amor-fati/)
Encerro este texto com uma frase comumente atribuída à Buda (cuja verdeira fonte não consegui confirmar):
 "Não se esqueça que os instantes que você vive aqui e agora e as pessoas com quem você convive aqui e agora são as mais importantes da tua vida por serem as únicas reais." - Budismo

domingo, 15 de outubro de 2017

Coragem e Indiferença

Algumas vezes queremos fazer algo, mas temos medo. Nessas horas, buscamos a coragem. Tentamos sobrepujar o medo com pura força de vontade.
Às vezes dá certo. Às vezes nos jogamos no abismo sem saber o que esperar.
Às vezes o medo nos paralisa. Às vezes acabamos fugindo.
Porém, uma coisa é certa: não há coragem sem medo. Só ao sentir o medo, podemos criar a coragem. São duas faces da mesma moeda, surgem da mesma circunstância.

Porém, existe uma outra alternativa: a indiferença. A indiferença é a verdadeira antítese ao par coragem/medo.
Quem sente coragem consegue até seguir em frente, mas, no fundo, continua sentindo medo.
Quem é indiferente não teme e também não precisa de coragem. É livre para fazer o que quer.

Ao invés de buscar a coragem, busque a indiferença na sua vida. Tente ver as coisas sob a óptica de alguém de fora, que não se importa com as consequências. Isso torna certas decisões muito mais fáceis.

sábado, 7 de outubro de 2017

Paradoxo da liberdade

Felicidade pressupõe liberdade. Em geral, quem é mais livre é mais feliz. No entanto, a angústia nasce justamente dessa mesma liberdade de escolha.

Barry Schwartz é um psicólogo que escreveu um livro chamado "O Paradoxo da Escolha". Nele, ele fala como, na sociedade atual, com toda nossa liberdade de escolhas e de deliberação, muitas vezes as pessoas acabam mais tristes, infelizes ou oprimidas.

Oprimidas pela escolha, pois quando você é obrigado a escolher, escolhas insignificantes acabam se tornando trabalhosas, tomando tempo desnecessário, e escolhas importantes acabam se tornando "impossíveis" de se fazer, por medo de escolher a opção errada e ter que colher as consequências disso. Ademais, a infinidade de coisas e de opções para que possamos escolher às vezes nos paralisa, causando inação. Nos sentimos perdidos, desamparados. Vemos despropósito na existência de algumas escolhas. Por que temos que escolher o que escolhemos?

O historiador Leandro Karnal faz uma reflexão sobre o trabalho de Étienne de la Boétie, o “discurso da servidão voluntária”. Ele diz que muitas vezes, abrimos mãos da nossa liberdade de escolha e entregamos a outrem por ser mais confortável ou por não nos sentirmos capazes de deliberar. Abrir mão da liberdade de escolha às vezes é libertador, principalmente na sociedade de hoje, em que há tanta coisa a escolher. Existencialistas talvez condenariam isso. Diriam que é má fé abrir mão da nossa agência sobre o mundo. Mas eu acho que abrir mão de escolher também pode ser uma escolha e não é uma escolha imoral.

Queria também falar sobre o exemplo que o Barry dá sobre as calças jeans. Na palestra ele diz que antigamente só havia um tipo de calças jeans para comprar nas lojas. Era uma calça horrorosa, não vestia bem, não era confortável, mas, com o tempo, ela ía se adaptando ao corpo. Você só comprava outra quando elas ficavam velhas mesmo. Outro dia ele foi comprar calças jeans novas para ele. Chegou na loja e viu que, atualmente, há um infinidade de tipos de calças. Apesar de ter comprado uma calça muito melhor do que ele jamais teve na vida, ele saiu da loja se sentindo infeliz, miserável. Simplesmente porque achou que, dada a quantidade de opções, poderia ter escolhido melhor. A multitude de opções faz com que elevemos nossas expectativas em relação ao resultado das nossas escolhas. E quando a expectativa é muito alta, mesmo que o resultado seja bom, ainda assim nos sentimos insatisfeitos.

Podemos aplicar isso às relações amorosas que temos hoje em dia. Se tornaram descartáveis, pois, pelo nosso leque e liberdade de escolhas, acabamos achando que não estamos com o par ideal. Sempre achamos que podemos escolher melhor e acabamos sozinhos e infelizes. Infelizmente, o amor virou "produto" de nossas escolhas em um sentido mais literal.

A solução? Talvez recorrer mais ao epicurismo. Viver uma vida buscando as coisas e prazeres mais simples, diminuindo nossas expectativas sobre a forma que o mundo deve ser e sobre o que o mundo nos deve. Talvez também devemos ser mais resignados e nos contentar com soluções que nem sempre vão ser as melhores em todas as situações, tentando, por outro lado, não cair na mediocridade. Equilíbrio é a chave.


Sobre mudanças

Tudo no mundo é exatamente do jeito que você acha que é. Exceto quando não é.

Você é do tipo de pessoa que costuma se questionar sobre suas próprias convicções? Faça um exercício... Tente encontrar uma crença sua que você acha que talvez não esteja certo sobre. Que não simplesmente esteja em dúvida, mas esteja errado. É possível? Que crença é essa?

Na minha vida, eu sempre segui um script. O caminho mais seguro. Até que esse caminho me levou a uma situação de infelicidade. Hoje em dia, eu percebo uma coisa. Mudanças não são opcionais. Tudo que muda, muda obrigatoriamente porque é necessário mudar. As pessoas que tomam riscos, que abrem mão de segurança para buscar algo a mais... Se você perguntar para elas, elas vão dizer que foi por opção delas e que elas conquistaram o que conquistaram por vontade própria. Mas, na verdade, o fazem porque não conseguem ser de outro jeito. É da natureza delas. É a natureza das coisas.

Steve Jobs foi quem foi porque era pra ser assim. Se tivessem pedido para ele: "Steve, não seja quem você é. Seja outra pessoa.", acredito que não funcionaria. Exceto se ele fosse obrigado por alguma circunstância. Steve Jobs só poderia ter sido Steve Jobs. Apenas se a história fosse diferente, Steve seria diferente. Seria como poderia ser, dado um outro contexto.

Todo mundo que muda alguma coisa, muda porque sente vontade ou necessidade, e vontade e necessidade não podem ser controladas, simplesmente surgem sem que tenhamos controle. Percebo também que as maiores mudanças, as mudanças mais profundas, geralmente advém das situações mais agudas, das condições mais extremas. Para alguém que está no poço do desespero só há duas saídas, o fim ou a renovação, a luta. Pessoas e animais que estão acuados, pressionados, intimidados, tendem a tomar atitudes mais radicais. As situações causam as mudanças.

Claro, nem sempre mudanças são tão bruscas assim. Porém, olhando para trás, vejo que as principais mudanças que ocorreram na minha vida foram devido a momentos em que houve uma ruptura no contexto geral. Mais ainda, essas rupturas às vezes surgem de eventos aparentemente pequenos, mas que servem como gatilhos e crescem em um efeito dominó.

Para concluir, quem é que muda? Só muda quem pode mudar. Só muda quem tem liberdade e possibilidade de mudar. Uma vez que haja a liberdade e a vontade ou a necessidade, não há caminho de volta. A mudança se torna inevitável.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Velhice e sabedoria

Aprender a viver não é algo que vem automaticamente, só por estarmos vivos. Apenas completar mais um ano de vida não nos torna mais sábios, só nos torna mais velhos. Há sempre o risco acabarmos como o rei Lear, em romance homônimo de Shakespeare, para o qual é dito "Não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio".

Há quem vive no piloto automático, sem refletir em como se dá sua relação e interações com o mundo. Criar consciência e tomar um pouco do controle é importante. Para isso, às vezes é necessário uma mudança de perspectiva, e às vezes é necessário relembrar coisas esquecidas. Ouvir histórias dos outros e adquirir o conhecimento dos que viveram experiências diferentes é fundamental para se tornar mais sábio e levar uma vida melhor. Também é importante realizar exercícios diários de auto-consciência para não sermos simplesmente levados pelo mundo.

A inspiração de hoje é o vídeo do Pedro Calabrez sobre uma das filosofias práticas mais interessantes, o estoicismo. O Pedro acaba misturando um pouco com outras coisas, mas as mensagens principais são o que valem.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Paradoxo do amor

Todo mundo tem defeitos e qualidades. Mas, muitas vezes, quando adentramos um ambiente social novo ou acabamos de conhecer alguém, escondemos um pouco os defeitos. Normalmente evitamos ser grossos ou mal educados com pessoas que não conhecemos ou com quem não temos intimidade. Por outro lado, as pessoas mais íntimas a nós, as que mais gostamos, são as que mais sofrem com os nossos defeitos. Esse é o paradoxo.

Geralmente são as pessoas que mais amamos e mais próximas a nós que tem que lidar com nosso estresse, nossas angústias, nossa irritação. Damos respostas atravessadas, chegamos atrasados com quem temos intimidade porque, no fundo, temos a esperança de que aquela pessoa é a que nos compreende e que nos perdoa. Nem sempre é o caso e nem sempre o outro é tão compreensível. O outro também tem seus defeitos, limitações, irritações.

Por fim, para encerrar em uma nota positiva, digo que a pessoa próxima que mais sofre com os nossos defeitos, que colhe os ônus de conviver conosco também é a que colhe os maiores bônus dessa convivência. É a que consegue enxergar e reconhecer em nós as nossas qualidades e que recebe os maiores benefícios das mesmas. E, se as qualidades realmente compensam, então vale a pena suportar os defeitos, sim.